Viagem ao Brasil, 1865-1866

o estado em que se encontram tais peixes durante os meses em que são vendidos no mercado, logo se vê que semelhante conclusão não é fundada. Estão sempre repletos de ovos e como essa é uma das razões por que são procurados para a mesa, não são levados ao mercado depois de terminada a postura. Ora não é possível que desovem duas vezes no espaço de poucas semanas; é, portanto, evidente que os savéis que fazem suas aparições sucessivas ao longo das costas do Atlântico, de fevereiro a maio, não são os mesmos. É a primavera que emigra para o norte que chama do fundo dos oceanos os cardumes de savéis, à medida que passa pelos diferentes pontos do litoral. Esses movimentos assim ligados ao aparecimento da primavera ao longo do litoral fazem acreditar numa migração do sul para o norte quando, na realidade, só será ascensão duma mesma espécie das águas mais profundas para os baixios na época de desova. Da mesma forma, é provável que a desigualdade dos períodos de cheia e vazante, nos diferentes tributários do Amazonas e nas diferentes partes da corrente principal, possa produzir uma certa regularidade de sucessão no aparecimento e desaparecimento das espécies em certos pontos e fazer acreditar numa migração sem que esta se realize.

Levando em conta todos os dados que pude obter sobre o assunto, tentei fazer simultaneamente, tanto quanto me foi possível, coleções em diferentes pontos do Amazonas. Assim, enquanto mandava pescar, na minha presença, em Vila Bela, há cerca de seis meses, alguns de meus auxiliares achavam-se ocupados em fazer a mesma coisa em Santarém e mais acima do Tapajós. Enquanto eu trabalhava em Tefé, pessoas por mim encarregadas operavam no Javari, Içá, e Jutaí; enfim, durante a minha estadia em Manaus, fizeram-se coleções ao mesmo tempo em Codajás, Manacapuru e mais acima ainda no Rio Negro, bem como em alguns afluentes inferiores do grande rio.