Viagem ao Brasil, 1865-1866

Em alguns desses locais, foi-me dado repetir as minhas observações em diferentes épocas, mas, necessariamente, os intervalos compreendidos entre a primeira e a última pesca numa mesma localidade não foram os mesmos. Entre as primeiras coleções feitas em Tefé e as últimas, apenas decorreram dois meses, ao passo que há um intervalo de quatro meses entre a pesca feita logo após a nossa chegada em Manaus, em setembro, e a que realizamos nestes próximos dias; em Vila Bela, entre os dois extremos, haverá um lapso de tempo de mais de cinco meses. Eis a razão por que eu dou grande importância à renovação das minhas investigações no mesmo local, bem como a formação mais tarde de novas coleções em Óbidos, Santarém, Monte Alegre, Porto de Moz, Gurupá e Pará. Por maior que seja o alcance de tais comparações, elas provam que as faunas distintas das localidades que eu cito não resultam de migrações. Não somente, na verdade, achamos peixes diferentes em todas essas bacias na mesma ocasião, como também, em épocas di-versas, os mesmos peixes surgiram nas mesmas águas sempre que jogamos a rede; isso se dá não nas localidades escolhidas mas, tanto quanto possível, em toda a superfície indistintamente e em todas as profundidades. Se a experiência confirma que no Pará e nas localidades intermediárias, após um intervalo de seis meses, as espécies são absolutamente as mesmas que as encontradas quando subimos o rio, teremos um fortíssimo argumento contra o preconceito das migrações longínquas dos peixes amazônicos. A notável limitação das espécies em áreas definidas não exclui, entretanto, a presença simultânea de certas espécies em toda a Bacia do Amazonas; desde o Peru até Pará, por exemplo, encontra-se o pirarucu espalhado por todos os pontos. Analogamente, um pequeno número de espécies se distribuem mais ou menos largamente no que se pode chamar de regiões ictiológicas distintas; a sua distribuição é muito extensa, mas elas não emigram; seu habitat é menos limitado, mas