Viagem ao Brasil, 1865-1866

violentamente contra elas. Patos e ciganas abundavam nessas paragens, e, uma ou duas vezes, fizemos as araras erguerem o voo na mata, não só a arara escarlate, verde e amarela, como também a, azul, infinitamente mais linda. Fugiram diante de nós, com a sua plumagem brilhando ao sol, e desapareceram logo por entre as árvores, em busca de retiro mais profundo e inacessível. Dos caniços da margem, soltava-se também a nota grave do unicórnio (Camichi) essa ave tão estimada dos brasileiros, meio pernalta, meio galinácea, que pertence ao gênero Palamedea. Por infelicidade nossa, só viéramos preparados para uma expedição botânica e não pudemos aproveitar a ocasião que se nos oferecia; as aves puderam assim livremente nos tentar passando ao alcance do nosso fuzil sem o menor receio.



A "vitória-régia"

No extremo superior do lago, chegamos ao berço dos lírios, donde fora arrancado o troféu da véspera. As folhas eram muito grandes, tendo várias dentre elas quatro ou cinco pés (1,22m a 1,52m) de diâmetro, mas penso que haviam perdido um tanto do seu frescor e de sua forma natural; assim, os seus bordos se erguiam quase que imperceptivelmente e às vezes mesmo deitavam-se completamente sobre as águas. Achamos alguns botões, porém nenhuma flor aberta. Esta tarde, felizmente uma das filhas de Maia, o nosso pesca-dor, sabendo que eu desejava ver uma dessas flores, foi buscá-la numa lagoa situada muito mais longe e que não teríamos tempo para visitar. Trouxe-me um exemplar perfeito. Os índios dão à folha um nome característico: chamam-na "forno", pela semelhança que apresenta com as imensas vasilhas muito rasas em que torram a cassava nos fornos de mandioca. Todos os viajantes descreveram a vitória-régia, a sua formidável armadura de espinhos, suas