Viagem ao Brasil, 1865-1866

brasileiro, ao Sul. Agassiz pensa que não pertencem nem a um nem a outro e que a sua formação se liga diretamente à do próprio vale. É a solução deste problema que ele procura na atual excursão; o Sr. Coutinho, que se muniu de barômetros, propõe-se mais especialmente a determinar a altura daqueles morros. Quanto a mim, passo alguns dias aqui aplicando-me em nada perder duma paisagem que, com razão, passa por ser a mais pitoresca das margens do Amazonas. Não somente contemplam-se vastos panoramas, como também a natureza friável do solo, que se decompõe facilmente, permitiu que as fortes chuvas formassem um número tão grande quanto variado de formosas ondulações, cobertas de rochedos, ensombradas pelas árvores, no fundo das quais brotam as fontes d’água com frequência. Uma destas, sobretudo, me encanta. É escavada profundamente em forma de anfiteatro, e as suas paredes pedregosas são coroadas por uma densa floresta de palmeiras, mimosas e outras espécies que projetam como que um véu sombrio sobre o solo. Uma fonte desce do alto da colina com alegre murmúrio e as empregadas negras e índias vêm encher nela os seus jarros. Trazem muitas vezes consigo as crianças confiadas a seus cuidados e veem-se os pesados cântaros inclinados para apanhar água, enquanto que, na pequena bacia por baixo, patinham, pés descalços, os garotinhos escuros ou morenos claros. Embora a vegetação seja baixa no campo, e o solo parcamente coberto de mato grosseiro, a floresta, em certos lugares, se apresenta em toda sua beleza; nunca nos foi dado ver mimosas maiores e mais luxuriantes; são às vezes de um verde tão rico e intenso, a sua folhagem por tal forma cerrada que se custa a acreditar, vendo-as à distância, que essas massas compactas sejam formadas pelas leves folhas penadas duma planta sensitiva. As palmeiras também são numerosas e elegantes e há varias espécies que ainda não conhecemos.