A ideia de que existiu um período glaciário provocou riso quando foi pela primeira vez emitida. Hoje é um fato consagrado. Se há divergências de opinião, é simplesmente quanto à extensão que tal período abrangeu. Ora, a minha recente viagem ao Amazonas me permitiu ajuntar mais um novo capítulo a essa estranha história, e é a própria região tropical quem o fornecerá.
A evidenciação de uma nova face do período glaciário levantará, espero, entre os meus confrades, uma oposição mais violenta ainda do que aquela com que foi acolhida o primeiro enunciado das minhas opiniões sobre esse próprio período. Saberei aguardar a minha hora. Tenho a certeza dela, de fato; da mesma forma que a teoria da antiga extensão das geleiras da Europa acabou por ser aceita pelos geólogos, a existência também de idênticos fenômenos contemporâneos na América do Norte e do Sul será mais cedo ou mais tarde reconhecida como pertencente à série dos acontecimentos físicos cuja ação abrangeu o mundo todo. Realmente, quando a história da idade do gelo for bem compreendida, ver-se-á que, se alguma coisa há de absurdo, é justamente supor que uma condição climatológica tão grandemente diferenciada tenha se podido limitar a uma pequena porção da superfície terrestre. Se o inverno geológico existiu, ele deve ter sido cósmico, e é tão racional procurar-lhe os traços no Hemisfério Ocidental como no oriental, ao sul como ao norte da linha do Equador. Influenciado por um modo de ver mais ousado sobre o assunto, confirmado em minhas impressões por uma série de observações — não publicadas ainda — que fiz durante os três últimos anos nos Estados Unidos, vim à América do Sul na esperança de descobrir, na região tropical, uma nova prova de que um período glaciário existiu outrora, apresentando necessariamente, está visto, aspectos muito diferentes. Tal resultado me parecia ser a consequência lógica do que eu observara na Europa e na América do Norte.