Viagem ao Brasil, 1865-1866

suas margens inferiores uma morena de dimensões tão colossais como as suas próprias, construindo assim um gigantesco dique que barrava a embocadura da bacia.



Ausência de indícios glaciários. Provas de outra natureza

Perguntar-me-ão desde logo se eu descobri também as inscrições glaciárias — as ranhuras, as estrias, as superfícies polidas tão características sobre os terrenos percorridos pelas geleiras. Respondo que não; não encontrei o menor traço. A razão, porém, é simples: é que não há em todo o Vale do Amazonas uma única rocha que tenha conservado a sua superfície natural. São elas de natureza tão friável e a decomposição produzida pelas chuvas quentes e torrenciais dessas latitudes, pela ação constante de um sol abrasador, é tão grande e incessante que não se pode ter a esperança de encontrar aquelas marcas, preservadas, em outras regiões, sem modificação, através dos séculos pela frigidez do clima e a dureza do material. Com exceção das superfícies arredondadas, tão conhecidas na Suíça pela designação de rochas moutonnées e cuja presença tive ocasião de assinalar em algumas localidades, e ainda dos blocos de Ererê, os vestígios diretos das geleiras, tais como existem em outros paises, faltam no Brasil. Sou levado, pois, a admitir que, efetivamente, em razão de tais circunstâncias, a prova positiva que me guiou em minhas precedentes investigações sobre a era glacial faltou-me no Brasil. Mas a minha convicção no caso funda-se primeiro sobre a natureza dos materiais do Vale do Amazonas, cujo caráter é exatamente análogo ao dos materiais acumulados no fundo das geleiras; depois, pela semelhança da terceira formação amazônica, a superior, com o drift do Rio de Janeiro (172) Nota do Autor,