Viagem ao Brasil, 1865-1866

que os dois elementos haviam igualmente concorrido para formar a crosta sólida do globo. Quanto aos icebergs dados a costa de que há pouco falei, não hesito em atribuir-lhes exclusivamente a origem dos numerosos lagos sem saída para as águas que existem na faixa arenosa ao longo da costa dos Estados Unidos, de que o Cabo Cod faz parte. Não somente a formação desses lagos, como também a de nossos alagadiços salgados e de nossas landes de mirtilias se relacionam, estou convencido, ao declínio da época glaciária .

Conto poder publicar um dia, minuciosamente, acompanhadas de cartas especiais e ilustrações, as minhas observações sobre as variações do litoral dos Estados Unidos e outros fenômenos conexos com o período glaciário nesse país. Comunicar resultados sem dar conta dos trabalhos que a isso nos levaram, é transgredir o verdadeiro método científico. Por isso, eu não teria trazido à baila tal questão, se não precisasse provar que as desnudações pela água doce e as invasões do oceano, em virtude das quais o Vale do Amazonas e seu sistema fluvial se formaram, não constituem fenômenos isolados, mas sim um processo, por assim dizer, empregado tanto na parte Norte como na parte Sul da América. A extraordinária continuidade e a uniformidade dos depósitos amazônicos são devidas às dimensões enormes da bacia que os contêm e à identidade dos materiais que essa bacia continha.

Uma simples vista d’olhos sobre qualquer carta geológica do globo fará ver ao leitor que o Vale do Amazonas, sempre que se pretendeu explicar-lhe a estrutura, é representado como contendo faixas isoladas de terreno devoniano, triássico, jurássico, cretáceo, terciário e de aluvião. Já aludi a essas representações gráficas; são outros tantos erros. O quer que se pense da minha interpretação dos fenômenos atuais, creio que, representando pela primeira