Viagem ao Brasil, 1865-1866

e do Maine; e que a mesma camada de drift ia daí ao Cabo Cod e descia ao sul até o Cabo Hatteras; — numa palavra, que em todo o litoral dos Estados Unidos, a linha das sondagens baixas marca a primitiva extensão do drift glaciário. O oceano erodiu esse depósito e deu ao continente a sua configuração atual. Tais desnudações operadas pelo mar principiaram, sem dúvida, logo que a destruição dos gelos expôs o drift às invasões do oceano, ou, por outras palavras, quando geleiras colossais precipitavam ainda as suas massas de gelo no Atlântico, quando esquadras de icebergs muitíssimo maiores e mais numerosos que os que atualmente descem das regiões árticas, eram lançadas ao mar na costa Nordeste dos Estados Unidos. Muitos desses blocos encalha-ram no litoral e aí deixaram a marca de sua passagem.

De fato, nos Estados Unidos, como aliás em toda parte, os fenômenos glaciários se operam em dois períodos distintos: o primeiro é o período glaciário propriamente dito, aquele em que os gelos formavam uma rocha sólida; o segundo é do degelo, da desagregação e da dispersão progressiva dos gelos. Fala-se da teoria das geleiras e da teoria dos icebergs a propósito de tais fenômenos, como se eles fossem devidos unicamente à ação de uns ou de outros; quem admite a primeira teoria rejeita a segunda e vice-versa. Quando os geólogos houverem combinado esses dois elementos, hoje discordantes, e considerarem esses dois períodos como consecutivos, sendo parte dos fenômenos obra de um, parte obra de outro e das inundações como se seguiram à destruição dos gelos, compreenderão que estão de posse do conjunto dos fatos e que as duas teorias se harmonizam entre si. Terminarão, penso eu, as discussões de agora como as que dividiam ainda, no começo do século, os “neptunistas" e “plutonistas”. Os primeiros julgavam que todas as rochas fossem resultantes da ação das águas, os segundos atribuíam tudo à ação do fogo. O problema se resolveu e o acordo se estabeleceu no dia em que se reconheceu