Viagem ao Brasil, 1865-1866

se se evita o flagelo, tem-se ao menos a certeza de ser envenenado pelo remédio, que, ministrado sem cautela, produz uma doença ainda mais grave do que aquela que se pretendia evitar.



Facilidade de se viajar no Amazonas

Pelo atrativo que pode proporcionar a novidade duma viagem pelo Amazonas, não deixará de ser agradável saber-se que se pode ir da Cidade do Pará até Tabatinga, tão comodamente como um viajante qualquer o poderia desejar; não digo que totalmente sem privações, mas seguramente sem se expor às doenças mais do que em outro qualquer país quente. Os perigos e aventuras que assinalaram as viagens de Spix e Martius ou mesmo as de exploradores mais recentes, como Castelnau, Bates e Wallace, são doravante impossíveis ao longo de todo o Rio Amazonas, se bem que se apresentem quase a cada passo ao viajante nos grandes afluentes. No Tocantins, no Madeira, no Purus, no Rio Negro, no Trombetas ou qualquer outro dos grandes tributários do Amazonas, o viajante ainda tem que navegar à canoa, lentamente; queimado pelo sol ou encharcado pela chuva, vê-se na obrigação de deitar à noite nas praias, ter o sono interrompido pelos gritos dos animais selvagens errantes nas matas que o rodeiam, e arriscar-se a encontrar, de manhã ao despertar, rastros de tigres (sic) a uma distância bem pouco animadora de sua tenda. Ao longo, porém, do curso principal do Amazonas, já se passou o tempo das aventuras romanescas e dos perigos emocio-nantes. Os animais ferozes da floresta fugiram diante do silvo dos vapores; a canoa e o acampamento nas margens dos rios cederam seu lugar às prosaicas acomodações dos paquetes. Sem dúvida que aqui, como aliás nas outras regiões tropicais, uma longa permanência pode