Viagem ao Brasil, 1865-1866

Uma vez deitada em minha rede, pus-me a espiar a chegada das minhas vizinhas com certa curiosidade. Vieram primeiro uma moça e sua irmãzinha que se deitaram juntas numa das camas, depois chegou a empregada que armou a rede num canto, e por fim a dona da casa tomou posse da outra cama e completou o encanto da cena acendendo o seu cachimbo e fumando placidamente até adormecer. Não posso dizer que a situação houvesse sido favorável ao repouso. A chuva torrencial que batia nas telhas atravessava o teto mal unido, e por mais que me virasse na rede as gotas caíam sobre o meu rosto; as pulgas estavam furiosas e, de tempos em tempos, o silêncio era interrompido pelo choro das crianças ou o grunhido do porco deitado ao pé da porta. Não é preciso dizer quanto me senti feliz quando o bater das cinco horas pôs todo o mundo de pé, sendo nossa intenção de partir às seis horas e fazer três léguas antes de almoçar. Mas, em excursões como esta, fazer projeto de partir a uma determinada hora e realizar esse projeto são coisas bem diversas. Quando estamos prontos para partir, faltavam dois cavalos; haviam fugido quando estávamos dormindo. Se bem que esse gênero de acidente seja uma constante causa de aborrecimentos, não passa pela cabeça de ninguém amarrar os cavalos durante a noite; acham mais simples deixá-los andar à vontade, procurando eles mesmo o alimento. Mandaram-se os criados atrás deles, e nós ficamos esperando, perdidas as melhores horas para viajar, até que afinal, quando já estávamos cansados de correr, os animais e os homens apareceram. Porém, por infelicidade, durante essas duas horas inativas, a chuva que cessara depois de haver caído torrencialmente, sem parar, durante a noite, ameaçava cair ainda mais; e começáramos apenas a caminhar que ela recomeçou com maior violência e não nos largou durante toda a mortificante