Viagem ao Brasil, 1865-1866

se tivesse escutado um sermão. Certamente, no nosso país, em que os credos são tão variados, em que cada enfermo talvez tenha a sua doutrina especial, haveria grande dificuldade para isso; mas aqui, onde existe uma religião de Estado, a mesma forma do culto corresponde às necessidades de todos. Diga-se mais uma vez, muitas pobres criaturas se sentiriam reconfortadas e consoladas e pouco se importariam com a seita do oficiante, se encontrassem nele devotamento.

Fiz propositadamente o paralelo entre o antigo e o novo hospital. Esse confronto dá bem a medida do progresso que, em determinado setores, se operou no Rio de Janeiro de uns 30 anos para cá. Nem todas as instituições progrediram da mesma forma que os estabelecimentos de beneficência, na verdade; é verdade também que a hospitalidade pode ser chamada uma virtude essencialmente brasileira. Os brasileiros consideram a es-mola como um dever e fazem mais prodigalidades para com as igrejas e instituições de caridade a elas afetas do que para com as casas de ensino. Infelizmente, uma grande, a maior parte de suas liberalidades desse gênero é dispendida em festividades do culto, em procissões de rua, em celebrações de dias de festa, etc., coisas essas todas elas calculadas tendo em vista mais alimentar a superstição do que estimular o puro sentimento religioso.

Não queremos deixar a "Misericórdia" sem dizer umas palavras sobre aquele a quem deve o seu atual aspecto. José Clemente Pereira ficará na memória dos brasileiros como um notável homem de Estado, cujo nome se liga a um bom número de acontecimentos dos mais importantes de sua história; possui, porém, ainda outros títulos merecedores da estima pública. Nasceu em Portugal e distinguiu-se, ainda muito moço, na guerra peninsular. Se bem que já contasse 38 anos