Viagem ao Brasil, 1865-1866

ladrilhada, para entrarmos no antigo hospital hoje exclusivamente destinado às mulheres e crianças. Isso nos deu ocasião para compararmos, no ponto de vista da organização geral, o antigo e o novo estabelecimento. À força de ordem e de limpeza, fez-se desse prédio algo de não repugnante e 1úgubre. Mas logo se sente a diferença entre as altas salas ventiladas, os corredores claros do pavilhão moderno e as peças baixas e apertadas deste edifício.

Tanto num prédio como noutro, chama imediatamente a atenção do estrangeiro a ausência de toda distinção de cor. Negros e brancos estão deitados lado a lado e é considerável a porcentagem de negros de ambos os sexos.

A caridade da Misericórdia é a mais ampla. Não só aí se tratam as doenças possíveis de curar, como se aceitam velhos e enfermos que dela só sairão para a última morada; na véspera se havia enterrado uma velha que vivera no hospital durante 17 anos. Há também um asilo para as crianças, cujos pais morrem no hospital e ficam sem quem lhes proteja; continuam a morar no estabelecimento e aí recebem a instrução elementar: leitura, escrita e cálculo; só saem de vez, quando em idade de casar ou arranjar emprego. Há uma capela anexa ao hospital e várias salas são dotadas, num dos extremos, de um altar sobre o qual se vê uma imagem da Virgem, ou crucifixo ou uma imagem de santo; não pude deixar de refletir de mim para mim, se o serviço religioso não deve constituir realmente um complemento de todas as instituições como essa, quer sejam protestantes quer católicos. Para os pobres, a igreja é um grande consolo; mais de um convalescente se sentiria feliz em ouvir os cânticos dominicais, de tomar parte nas preces comuns a fim de rogar a sua saúde e se consideraria melhor de corpo e espírito