influência de um tal sistema sobre a situação que para o seu sexo criam os costumes nacionais.
Efetivamente, nunca conversei com as senhoras com quem de mais perto privei no Brasil que delas não recebesse as mais tristes confidências acerca de sua existência estreita e confinada. Não há uma só brasileira, que tenha um pouco refletido sobre o assunto, que não se saiba condenada a uma vida de repressões e constrangimentos. Não podem transpor as portas de sua casa, senão em determinadas condições, sem provocar escândalo. A educação que se lhes dá, restrita a um conhecimento sofrível de francês e música, deixa-as na ignorância de uma série de questões gerais; o mundo dos livros lhes está fechado, pois é diminuto o número das obras portuguesas que lhes permitem ler, e menor ainda o das obras escritas em outras línguas. Pouca coisa sabem a respeito da história de seu próprio país, quase nada da de outras nações, e nem suspeitam sequer que possa haver um outro credo religioso que aquele que domina no Brasil; talvez mesmo nunca hajam ouvido falar da “Reforma”. Não imaginam nem de longe que um oceano de pensamento se agita fora de seu pequeno mundo e provoca constantemente novas fases na vida dos povos e dos indivíduos. Em suma, além do círculo estreito de sua existência doméstica, nada existe para elas.
Estávamos um dia numa fazenda, quando avistei um livro em cima de um piano. Um livro é coisa tão rara nos apartamentos ocupados pelas famílias, que fiquei curiosa em saber qual seria o contendo dele. Era um romance, e, ao virar eu as suas páginas, surgiu o dono da casa que disse em alta voz que aquela não era uma leitura conveniente para senhoras. "Aqui está (entregando-me um pequeno volume), uma excelente obra que comprei para minha mulher e minhas filhas". Abri o precioso volume; era uma espécie de pequeno tratado de moral, cheio de banalidades sentimentais e de frases