Viagem ao Brasil, 1865-1866

feitas em que dominava um tom de condescendência e proteção à pobre inteligência feminina, porquanto, apesar de tudo, a mulher é a mãe dos homens e exerce um pouquinho de influência sobre a sua educação. Após essa mostra do alimento intelectual que se lhe oferecia, não teria que me admirar de que a esposa e as filhas do dono da casa em que nos achávamos demonstrassem um gosto dos mais moderados pela leitura. Nada impressiona tanto o estrangeiro como essa ausência de livros nas casas brasileiras. Se o pai exerce uma profissão liberal, tem uma pequena biblioteca de tratados de medicina ou direito; mas não se veem os livros espalhados pela casa como objetos de uso constante; não fazem parte das coisas de necessidade corrente. Repito que há exceções; lembro-me de ter encontrado, no quarto duma senhora cuja família nos dera afetuosa hospitalidade, uma biblioteca escolhida das melhores obras de história e literatura, em francês e alemão; mas foi o único exemplo que encontramos durante um ano de permanência no Brasil. Mesmo quando as brasileiras tenham recebido os benefícios da instrução, há, em sua existência doméstica, tanta compressão, elas estão tão pouco em ligação com o mundo exterior, que isso basta para pôr um obstáculo ao seu desenvolvimento intelectual; os seus prazeres são tão mesquinhos e raros como os seus meios de instrução.

Exprimindo essas duras verdades, faço-me eco simplesmente de um grande número de brasileiros inteligentes que deploraram esse estado de coisas, mal perigoso, sem saber como reformá-lo. E se, dentre os nossos amigos do Brasil houver alguns, que, apoiados nos pro-gressos e transformações que se operam na vida social do Rio de Janeiro, ponham em dúvida a exatidão de minhas asserções, tenho uma resposta bem simples para dar-lhes: é que não conhecem as condições sociais das pequenas cidades do Norte e do interior. Nunca em