bem que inclinadas em declive muito acentuado, as camadas não são tão verticais como do lado do sul. Resulta dessa diferença que os cumes das montanhas do lado setentrional são maciços e menos destacados ao passo que, no sul, onde os estratos são quase verticais, só as camadas mais resistentes permaneceram de pé, tendo sido aos poucos desagregados os leitos das rochas intermediárias. A tal processo se deve a formação desses estranhos picos que, ao longe, parecem uma fila de tubos de órgão — donde deriva o nome que designa a serra. Do Rio de Janeiro, o aspecto dessas montanhas é quase o mesmo de Teresópolis; apenas, como um dos dois pontos de vista está situado a nordeste e o outro a sudoeste, os cimos se sucedem em ordem inversa. Quando vistas de perfil, a forma esguia dessas montanhas é das mais notáveis; vistas de frente, pelo contrário, devido à larga superfície de suas camadas embora igualmente abruptas, têm-se antes a forma dum triângulo do que a duma coluna vertical. É extraordinário que a altura de tais cumes, que constituem um dos traços mais notáveis da paisagem do Rio de janeiro, não haja sido ainda determinada com cuidado; a única indicação precisa que encontrei sobre o assunto foi a dada pelo Sr. Liais, que fixa em 2015 metros a altura máxima por ele avaliada.
Esses picos abruptos formam muita vez a cintura duma bacia muito simétrica e sem saída para o exterior. Em razão dessa circunstância singular, os fenômenos glaciários que abundam nas montanhas dos Órgãos apresentam um caráter particular. A princípio, não consegui explicar por que aquelas massas de pedra descidas das alturas circunvizinhas puderam estacar à beira dessas bacias, em vez de rolar-se-lhes no fundo. A sua situação é, porém, a mais natural se se levar em conta que os gelos devem ter persistido nessas depressões, muito tempo depois de haverem desaparecido das vertentes superiores. Na impossibilidade de continuar o caminho, os blocos se foram pouco a pouco afundando no solo e nele se acham presentemente fixados