Viagem ao Brasil, 1865-1866

recursos materiais, caminhando para uma civilização superior sob a inspiração de um príncipe tão esclarecido quanto humano. Seria preciso que eu houvesse fechado os olhos a tudo o que não fosse o objeto especial de meus estudos, para não poder dizer uma palavra do Brasil como nação, de suas condições presentes e perspectivas futuras.

Há no Brasil muitas coisas entristecedoras, mesmo para aqueles que, como eu, têm fé nesse país e creem firmemente que ele tem diante de si uma carreira de glórias e poderio. Há também nele uma porção de coisas a louvar, e é o que me dá a convicção de que esse jovem Império se erguerá, como nação, à altura da magnificência que possui como território. Se algum dia as faculdades morais e intelectuais do povo brasileiro se puserem em harmonia com a maravilhosa beleza e as riquezas imensas que o país recebeu da natureza, não haverá outro país mais feliz sobre a terra. No presente há, porém, vários obstáculos ao seu progresso; obstáculos que atuam sobre o seu povo como uma enfermidade moral. Existe aí a escravidão. Verdade é que se aproxima já do fim; que recebeu o seu golpe mortal; mas a morte natural da escravidão, ainda, assim, é uma doença lenta que consome e destrói o corpo que ela ataca. Ao lado desse mal, assinalarei, entre as influências fatais ao seu progresso, o caráter do clero. Não desejo expressamente fazer qualquer alusão à religião nacional; quando falo do caráter do clero, não me refiro absolutamente à crença que ele personifica. Seja qual for a organização da Igreja, o que, sobretudo, importa, num país em que a instrução está ainda inteiramente ligada a uma religião do Estado, é que o clero se componha, não somente de homens de alta moralidade, mas também de homens de estudo e pensamento. Ele é o professor do povo; deve, portanto, deixar de acreditar que o espírito se possa contentar,