Viagem ao Brasil, 1865-1866

pronunciada. As proporções entre o comprimento e a largura do tronco medidas, num paralelo entre as duas raças, dos ombros até a base do tronco, diferem a custo no índio e no negro; é o que torna tão aparente a diferença entre o comprimento relativo e a grossura dos membros.

Não preciso assinalar as diferenças dos cabelos. Todos conhecem os cabelos grossos e esticados dos índios, e a cabeleira lanuda e crespa dos negros. Não é necessário também que eu lembre os traços característicos dos brancos, indicando o contraste que há entre ele e os índios ou os negros.

Algumas palavras apenas para fazer ver quão profundamente arraigadas são as diferenças primordiais entre as raças puras. Como as espécies distintas de ani-mais, as diferentes raças humanas dão mestiços pelo cruzamento e os mestiços nascidos de raças diversas apresentam uma grande diferença. O mestiço de branco com preto, chamado mulato, é por demais conhecido para que eu necessite descrevê-lo; tem os traços elegantes e a cor clara; é cheio de confiança em si, porém indolente. O mestiço de índio com negro, que se designa por cafuzo, é muito diferente: seus traços nada têm da delicadeza dos do mulato; a sua cor é carregada, seus cabelos longos, finos e anelados, e o seu caráter apresenta uma feliz combinação do humor afável do negro e da enérgica rusticidade do índio. O mestiço de branco com índio, denominado mameluco no Brasil, é pálido e efeminado, fraco, preguiçoso, embora obstinado. Parece que a influência do índio tem a força justamente precisa para anular os altos atributos do branco, sem comunicar ao produto nada da sua própria energia. É muito de notar que, nessas duas combinações do índio, quer com o branco, quer com o preto, o primeiro imprima o seu traço na descendência muito mais profundamente que o progenitor da segunda