Viagem ao Brasil, 1865-1866

diversas que se vieram sucedendo na posse da terra têm, cada qual delas, o seu caráter próprio. A teoria das transformações sustenta que elas devem sua origem a modificações graduais e que não são, por conseguinte, o resultado de criações distintas. Não nega, todavia, que se chegue necessariamente a uma camada inferior em que não se encontra mais traço de vida. Situe-se onde se queira essa camada. Suponhamos, se se faz questão, que houve engano quando se julgou achar o primeiro suporte dos seres vivos nos depósitos do cambriano inferior. Suponhamos que os primeiros animais tenham precedido tal época, tenham aparecido numa idade anterior do globo, na qual se denomina o sistema laurenciano, ou mesmo em andares ainda mais antigos; não é menos verdade que a geologia nos faz descer a um nível em que as condições da crosta terrestre tornam a vida impossível. Nesse ponto, onde quer que o situemos, a origem dos animais por desenvolvimento sucessivo e gradual é impossível porque não há antepassados. Eis o verdadeiro ponto de partida, e até que os fatos hajam provado que o poder, seja ele qual for que deu existência aos primeiros seres cessou de agir, não vejo razão para se atribuir a outro que não a ele a origem da vida. Não temos, eu confesso, uma demonstração da ação dum poder criador, como o que a ciência exige para a evidência positiva de suas leis; somos incapazes de avaliar os meios pelos quais a vida foi introduzida na Terra. Mas se, do nosso lado, os fatos são insuficientes, eles faltam em absoluto do lado dos nossos adversários. Não podemos considerar a teoria do desenvolvimento como provado porque parece plausível a alguns naturalistas; parece plausível a alguns, porém não está demonstrada para ninguém. Se trago hoje essas questões para aqui, não é que eu queira que os meus ouvintes adiram a uma ou outra teoria, por mais fortes que sejam as minhas próprias convicções. Quero simplesmente preveni-los, não contra a teoria do desenvolvimento em si, mas contra o método