Viagem ao Brasil, 1865-1866

geral, resultante, em parte, sem dúvida, da extrema umidade do clima; uma expressão uniforme de indolência nos transeuntes: eis o bastante para causar uma impressão singular a quem acaba de deixar a nossa população ativa e enérgica.



Grupos pitorescos nas ruas.

Entretanto, o efeito pitoresco é tal, pelo menos aos olhos de um viajante, que todos esses defeitos desaparecem. Todo aquele que visitou uma dessas velhas cidades espanholas ou portuguesas dos trópicos está lembrado de suas ruas estreitas, das casas multicores guarnecidas de balcões pesados, das fachadas pintadas ou revestidas de azulejos gritantes, e, como única variante, marcadas aqui e ali pela queda de um destes. Que fascinação e que encanto eles sabem que sentiram a despeito da falta de asseio e das coisas julgadas mais necessárias. E os grupos da rua então! Aqui, os pretos carregadores seminus rígidos e firmes como estátuas de bronze, sob os pesados fardos que carregam na cabeça e parecem estar aparafusados no seu crânio; ali, padres de vestes compridas e chapéu quadrado; acolá, mulas balançando dois cestos cheios de frutas e legumes: não é um espetáculo variado feito para absorver a atenção de um recém chegado? Quanto a mim, nunca os negros se me mostraram sob um aspecto tão artístico. Não faz muito, cruzamos na rua com uma preta toda vestida de branco, o colo e os braços nus, com as mangas arregaçadas e presas numa espécie de bracelete; estava com a cabeça coberta por enorme turbante de musselina branca e trazia a tiracolo sobre os ombros um xale comprido de vivas cores, caindo até quase os pés. Fazia com certeza parte da aristocracia dos negros, porque, do outro lado da rua, uma outra preta quase sem roupa, sentada nas pedras da calçada, com seu filho nu adormecido nos joelhos,