deixava luzir ao sol a sua pele escura e lustrosa. Outro quadro ainda: sobre um muro velho, baixo, da largura de alguns pés, correm trepadeiras que deixam pender até o chão suas folhagens espessas; dir-se-ia um longo mostruário, cheio de frutas e legumes para vender. Por trás, um negro de formas robustas está em frente da rua; com seus braços de ébano cruzados sobre um cesto cheio de flores vermelhas, laranjas e bananas, está quase dormindo, indolente demais para fazer um simples aceno ao comprador.
Eclipse do Sol
25 de abril — Parece que a natureza guardou para nos receber, não somente as suas festas mais alegres, como também as mais excepcionais. Hoje houve um eclipse do sol total em Cabo Frio, a sessenta milhas daqui, e quase total no Rio. Assistimo-lo do convés do navio onde ainda estamos morando. O efeito foi tão estranho quanto admirável. Uma gélida palidez invadia a terra com a sua sombra, e houve como que um calafrio de toda a natureza. Não era um crepúsculo, dir-se-ia um lúgubre panorama do país dos fantasmas. Agassiz passou a manhã toda no palácio, onde o Imperador o convidara a vir ver o eclipse em seu observatório. As nuvens são más cortesãs: passou uma por cima de São Cristóvão tão desastrosamente que interceptou a vista do fenômeno no momento de maior interesse. Nosso posto de observação foi melhor, durante esse momento, que o observatório imperial. Se o espetáculo dessa cena estranha foi mais apreciável visto da baía que de terra, Agassiz pôde, no entanto, fazer algumas interessantes observações sobre as impressões sentidas pelos animais nessas circunstâncias extraordinárias. Copio suas notas: