Por Brasil e Portugal

o nosso Profeta na consideração de tantas calamidades, até que para remédio delas o mesmo Deus que o alumiava lhe inspirou um conselho altíssimo nas palavras que tomei por tema.

Exurge, quare obdormis, Domine? Exurge, et ne repellas in finem. Quare faciem tuam avertis, oblivisceris inopiae nostrae, et tribulationis nostrae? Exurge, Domine, adjuva nos, et redme nos propter nomen tuum. Não prega David ao povo, não o exorta ou repreende, não faz contra ele invectivas, posto que bem merecidas; mas todo arrebatado de um novo e extraordinário espírito, se volta não só a Deus, mas piedosamente atrevido contra ele. Assim como Marta disse a Cristo: Domine nom est tibi curae? (S. Luc. X — 40) assim estranha David reverentemente a Deus, e quase o acusa de descuidado. Queixa-se das desatenções de sua misericórdia e providência, que isso é considerar a Deus dormindo: Exurge, quare obdormis, Domine? Repete-lhe que acorde, e que não deixe chegar os danos ao fim, permissão indigna de sua piedade: Exurge, et ne repellas in finem. Pede-lhe a razão porque aparta de nós os olhos e nos volta o rosto: Quare faciem tuam avertis; e porque se esquece da nossa miséria, e não faz caso de nossos trabalhos: Oblivisceris inipiae mostrae et tribulationis nostrae? E não só pede de qualquer modo esta razão do que Deus faz e permite; senão que insta a que lha dê, uma e outra vez: Quare obdormis? Quare oblivisceris? Finalmente depois destas perguntas, a que supõe que não tem Deus resposta, e destes argumentos com que presume o tem convencido, protesta diante do tribunal de sua justiça e piedade, que tem obrigação de nos acudir, de nos ajudar e nos libertar logo: Exurge, Domine, adjuva nos, et redime nos. E para mais obrigar ao mesmo Senhor, não protesta por nosso bem e remédio, senão por parte de sua honra e glória: Propter nomen tuum.