Por Brasil e Portugal

irado e resoluto, que daquela vez havia de acabar para sempre com uma gente tão ingrata, e que a todos havia de assolar e consumir, sem que ficasse rasto de tal geração: Dimitte me ut irascator furor meus contra eos, et deleam eos. (Exod. XXXII — 10 e 11). Não lhe sofreu porém o coração ao bom Moisés ouvir falar em destruição e assolação do seu povo; põe-se em campo, opõe-se à ira divina, e começa a arrezoar assim: Cur Domine irascitor furor tuus contra populum tuum? E bem, Senhor, porque razão se indigna tanto a vossa ira contra o vosso povo? Porque razão Moisés? E ainda vós quereis mais justificada razão a Deus? Acaba de vos dizer que está o povo idolatrando; que está adorando um animal bruto; que está negando a divindade ao mesmo Deus, e dando-a a uma estátua muda, que acabaram de triunfo com que os livrou do cativeiro do Egito; e sobretudo isto ainda perguntais a Deus, porque razão se fazer suas mãos, e atribuindo-lhe a ela a liberdade e agasta: Cur irascitur furor tuus? Sim. E com muito prudente zelo; porque ainda que da parte do povo havia muito grandes razões de ser castigado, da parte de Deus era maior a razão que havia de o não castigar: Ne quaeso (dá a razão Moysés) ne quaeso dicant Aegipti, Callidé eduxit eos, ut interficeret in montibus, et deleret e terra. (Ibid. — 12). Olhai, Senhor, que porão mácula os egípcios em vosso ser, e quando menos em vossa verdade e bondade. Dirão, que cautelosamente, e à falsa fé, nos trouxestes a este deserto, para aqui nos tirardes a vida a todos, e nos sepultardes. E com esta opinião divulgada, e assentada entre eles, qual será o abatimento de vosso santo nome, que tão respeitado e exaltado deixastes no mesmo Egito, com tantas e tão prodigiosas maravilhas do vosso poder? Convém logo, para conservar o crédito, dissimular o castigo, e não dar com ele ocasião àqueles