gentios e aos outros, em cujas terras estamos, ao que dirão: Ne quaeso dicant. Desta maneira arrazoou Moisés em favor do povo; e ficou tão convencido Deus da força deste argumento, que no mesmo ponto revogou a sentença, e, conforme o texto hebreu, não só se arrependeu da execução, senão ainda no pensamento. Et paenituit Dominum mali, quod cogitaverat facere Populo suo. (Ibid. — 14). E arrependeu-se o Senhor do pensamento e da imaginação que tivera de castigar o seu povo.
Muita razão tenho eu logo, Deus meu, de esperar que haveis de sair deste sermão arrependido; pois sois o mesmo que ereis, e não menos amigo agora que nos tempos passados de vosso nome: Propter nomem tuun, Moisés disse-vos: Ne quaese dicant; Olhai, Senhor, que dirão; e eu digo e devo dizer: Olhai, Senhor, que já dizem. Já dizem os hereges insolentes com os sucessos prósperos que vós lhe dais ou permitis; já dizem que porque a sua, que eles chamam religião é a verdadeira, por isso Deus os ajuda e vencem; e porque a nossa é errada e falsa, por isso nos desfavorece e somos vencidos. Assim o dizem, assim o pregam, e ainda mal porque não faltará quem os creia. Pois é possível, Senhor, que hão de ser vossas permissões argumentos contra a vossa fé? É possível que se hão de ocasionar de nossos castigos blasfêmias contra o vosso nome? Que diga o herege (o que treme de o pronunciar a língua), que diga o herege que Deus está holandês? Oh não permitais tal, Deus meu, não permitais tal, por quem sois. Não o digo pelo Brasil, que pouco ia em que o destruísseis; por vós o digo e pela honra de vosso Santíssimo Nome, que tão imprudentemente se vê blasfemado; Propter nomen tuum. Já que o pérfido calvinista dos sucessos que só lhe merecem nossos pecados faz argumento da religião, e se jacta insolente