III
Considerai, Deus meu — e perdoa-me se falo inconsideradamente — considerais a quem tirais as terras do Brasil e a quem as dais. Tirais estas terras aos portugueses a quem no princípio as destes; e bastava dizer a quem as destes, para perigar o crédito de vosso nome, que não podem dar nome liberal mercês com arrependimento. Para que nos disse São Paulo, que vós, Senhor, quando dais, não vos arrependereis; Sine paenitência enim sunt dona Dei? (Rom. XI — 29). Mas deixado isto a parte, tirais estas terras àqueles mesmos portugueses a quem escolhestes entre todas as nações do mundo para conquistadores da vossa fé, e a quem destes por armas como insígnia e divisa singular vossas próprias chagas. E será bem, Supremo Senhor e Governador do Universo, que às sagradas quinas de Portugal, e às armas e chagas de Cristo, sucedam as heréticas listas de Holanda, rebeldes a seu rei e a Deus? Será bem que estas se vejam tremular ao vento vitoriosas, e aquelas abatidas, arrastadas e ignominiosamente rendidas? Et quid fadies magno nomini tuo? Josué VII — 9). E que fareis (como dizia Josué) ou que será feito de vosso glorioso nome em casos de tanta afronta?
Tirais também o Brasil aos portugueses, que assim estas terras vastíssimas, como as remotíssimas do Oriente, as conquistaram à custa de tantas vidas e tanto sangue, mais por dilatar vosso nome e vossa fé (que esse era o zelo daqueles cristianíssimos reis), que por amplificar e estender seu império. Assim fostes servido que entrássemos nestes novos mundos, tão honrada e tão gloriosamente, e assim permitis que saiamos agora (quem tal imaginaria de vossa bondade), com tanta afronta e ignomínia!