tenho mais que olhar para mim" (Cartas, II, 334, edição de 1885).
E a última carta — do seu majestoso epistolário — que ditou na Bahia, ao pé da sepultura, nonagenário e desiludido, porém a lâmpada da indignação cívica ardendo no fundo das pupilas que já não viam, repetia e prolongava o eco apostólico dos sermões da mocidade:
"Das cousas publicadas não digo a V. Mcê. mais que ser o Brasil hoje um retrato e espelho de Portugal em tudo o que V. Mcê. diz dos aparatos de guerra sem gente nem dinheiro, das searas dos vícios sem emenda, do infinito luxo sem cabedal e de todas as outras contradições do juízo humano".
E rematava o derradeiro protesto contra a hipocrisia da inteligência que não afiava mais, como outrora, o gume das armas, para as batalhas da pátria recuperada, redimida e confirmada.
"Mas de cá escrevem-se mentiras e de lá responde-se com lisonjas, e neste voluntário engano está fundada toda a nossa conservação". (Cartas, II, 376).
São palavras que rompem o silêncio dos tempos como o alento e a lição das épocas decisivas, quando, "por Brasil e Portugal", debaixo de uma doirada abóbada de igreja, falou para o presente e para o futuro o padre Antonio Vieira.
P. C.