Por Brasil e Portugal

tratar, resolver, voltando antes do fim, de medo a enredar-se tanto nos assuntos do mundo que lhe não sobrasse fôlego para os do céu. Depois de ir à França, Holanda e Alemanha, com os seus lúcidos projetos de pazes e alianças, que salvassem, de Castela, o pequeno reino de Portugal esgotado na guerra da independência, o que achou de mais aprazível para o seu temperamento audaz foi recolher-se ao Brasil para ensinar aos tapuias. Dez anos, em seguida, perlustrou as selvas amazônicas, arriscando a vida entre os índios inimigos e as suas florestas palustres, resignado na sua tarefa de São Francisco Xavier — ele, que abandonara os paços reais e o governo do povo, para ser, no meio dos columis, um abaúna humilde como os que enfeitavam — bem-aventurados e mártires — os painéis do teto da sacristia do colégio, na sua Bahia... Regressou à Europa, mas, outra geração à testa do Estado, para escusar-se diante do Santo Ofício de suas atrevidas proposições, que cheiravam a heresia, a iluminismo, a velhas magias; para ajudar a livrar-se Portugal do frouxo rei Afonso VI, ganhando em troca o embravecido D. Pedro II; para recusar, no Vaticano, o título de diretor espiritual da rainha da Suécia, que lhe dera o Geral da Companhia; e, cansado dos homens, de sua pequenez, de suas misérias, retirar-se afinal para a Quinta do Tanque, na Bahia, restituindo à paisagem da infância a velhice carregada de dissabores, de honrarias e de experiência.

"Não há maior comédia que a minha vida (escreveria, em 1658); e, quando quero chorar ou rir, admirar-me, ou dar graças a Deus, ou zombar do mundo, não