esta Bahia, não fazem mais que chupar, adquirir, ajuntar, encher-se (por meios ocultos, mas sabidos), e ao cabo de três ou quatro anos, em vez de fertilizarem a nossa terra com a água que era nossa, abrem as asas ao vento, e vão chover a Lisboa, esperdiçar a Madrid. Por isso nada lhe luz ao Brasil, por mais que dê, nada lhe monta, e nada lhe aproveita, por mais que faça, por mais que se desfaça. E o mal mais para sentir de todos é, que a água que por lá chovem e esperdiçam as nuvens, não é tirada da abundância do mar, como noutro tempo, senão das lágrimas do miserável, e dos suores do pobre, que não sei como atura já tanto a constância e fidelidade destes vassalos. Tenho reparado muito que em nenhum tormento da paixão desceu anjo do céu a confortar a Cristo senão quando suou no Horto. Pois porque mais nos suores do Horto, que nos açoites da coluna, nos tormentos da cruz, ou noutro daqueles trances rigorosíssimos? Os porquês de Deus são só a ele manifestos. Mas o que ele nos revelou daquele caso é que suou, e que suou pela saúde, pela vida, e pela glorificação dos homens. E que hajam de viver outros à custa do meu suor! Que haja de suar eu para que outros vivam! Que haja de suar eu para que outros triunfem! É um ponto tão rigoroso, considerado humanamente, como Cristo então o considerava, é um ponto tão rigoroso, é um trance tão apertado, que até o coração de um Homem Deus parece que há mister que venha um anjo do céu a o confortar, que não há forças na natureza, nem cabedal para tanto. Muitos trances destes tens padecido, desgraciado Brasil, muitos se desfizeram para se fazerem, muitos edificam palácios com os pedaços de tuas ruínas, muitos comem o seu pão, ou o pão não seu, com o suor do teu rosto; eles ricos, tu pobre; eles salvos, tu em perigo; eles por ti vivendo em prosperidade, tu por eles a risco