Por Brasil e Portugal

sobre estes talentos os outros maiores de seu zelo, de sua sabedoria, de sua santidade.

Só fará escrúpulo nesta matéria o gênio tão conhecido de Santo Antonio, segundo o qual parece que era menos conveniente sua assistência em cortes que se fizessem em Castela, que nestas que celebramos em Portugal. Os intentos de Castela são recuperar o perdido; os intentos de Portugal são conservar o recuperado. E como deparar coisas perdidas é o genio e a graça particular de Santo Antonio, a Castela parece que convinha a assistência de seu patrocínio, que a nós por agora não. Quem nos ajude a conservar o ganhado é o que havemos mister. Ora, senhores, ainda não conhecemos bem a Santo Antonio? Santo Antonio para os estranhos é recuperador do perdido; para com os seus é conservador do que se pode perder. Caminhava o pai de Santo Antonio a degolar (assim o dizem muitas histórias, ainda que alguma fale menos nobremente), e chegando já às portas da Sé, e às suas, eis que apareceu o santo milagrosamente, fez parar os ministros da justiça, ressuscita o morto, declara-se a inocência do condenado, e fica livre. Pergunto: por que não esperou Santo Antonio que morresse seu pai, e depois de morto lhe restituiu a vida? Não é menos fundada a dúvida que no exemplo de Cristo Senhor nosso, de quem diz o texto de São João, que avisado da enfermidade de Lázaro, de propósito se deteve e o deixou morrer, para depois o ressuscitar. Distulit sanare, ut posset resuscitare, ponderou o Chrysologo; que lhe dilatou a saúde, porque lhe quis ressuscitar a vida. Pois se é mais gloriosa ação, e mais de Cristo ressuscitar uma vida, que impedir uma morte; porque o não fez assim Santo Antonio?

Não fora maior milagre, não fora mais bizarra maravilha acabar o verdugo de passar o cutelo pela garganta do pai, e no mesmo ponto aparecer sobre o teatro o filho,