Por Brasil e Portugal

III

Mas perguntar-me-á alguém, ou perguntara eu a Santo Antonio: Que remédio teremos nós para remediar os remédios? Muito fácil, diz Santo Antonio: Vos estis sal terrae. Para se curar uma enfermidade, vê-se em que peca a enfermidade; para se curarem os remédios, veja-se em que pecaram os remédios. Os remédios, como diz a queixa pública, pecaram na violência, muitos arbítrios, mas violentos muitos. Pois pondere-se a violência com a suavidade, ficarão os remédios remediados. Foram ineficazes os tributos por violentos, sejam suaves, e serão efetivos. Vos estis sal terrae; Duas propriedades tem o sal, diz aqui Santo Hilário; conserva, e mais tempera; é o antídoto da corrupção e lisonja do gosto; é o preservativo dos preservativos, e o sabor dos sabores: Sal incorruptionem corporibus, quibus fuerito aspersus, impertit, et ad omnem sensum conditi saporis aptissimus est. Tais como isto devem ser os remédios com que se hão de conservar as repúblicas. Conservativos sim, mas desabridos não. Obrar a conservação, e saborear, ou ao menos não ofender o gosto, é o primor dos remédios. Não tem bons efeitos o sal, quando aquilo que se salga fica sentido. De tal maneira se há de conseguir a conservação, que se escuse quanto for possível o sentimento. Tirou Deus uma costa a Adão para a fábrica de Eva; mas como a tirou? Immisit Deus soporem in Adam, diz o texto sagrado: Fez Deus adormecer a Adão, e assim dormindo lhe tirou a costa.(222)Nota do Autor

Pois porque razão dormindo, e não acordado? Disse-o advertidamente o nosso português Oleastro, e é o