A sua razão é: Dum non ex suo, sed ex invento solveret: porque pagou do dinheiro achado, e não do seu.
Mas a mim mais fácil me parece distinguir na mesma pessoa diferentes representações, que admite receber e dar sem consideração de domínio. O pensamento é o mesmo, escolha cada um das duas razões a que mais lhe contentar. E como a matéria era de tanta importância, ainda por outra cláusula a confirmou e ratificou o Senhor, para que este exemplo lhe não prejudicasse: Da eis pro me et te:(231)Nota do Autor Dai, Pedro, por mim e por vós. Dá; aqui reparo. Quando lhe vieram perguntar a Cristo, se era lícito pagar o tributo a César, respondeu o Senhor:
Reddite, quae sunt Caeseris, Caesari, et quae sunt Dei, Deo:(232)Nota do Autor Pagai o de César a César, e o de Deus a Deus. Pergunta Theofilato: Quare reddite et non date? Por que diz Cristo pagai, e não diz dai? A mesma questão faço eu aqui: Da eis pro me et te: quare da et non, redde? Por que diz dai e não diz pagai? Se lá diz Cristo, pagai e não dai, por que cá diz o mesmo Senhor dai e não pagai? A razão é porque lá falava Cristo com os seculares, cá falava com os eclesiásticos; e quando uns e outros concorrem para os tributos, os seculares pagam, e os eclesiásticos dão. Os seculares pagam, porque dão o que devem; os eclesiásticos dão porque pagam o que não devem. Por isso Cristo usou da cláusula Da com grande providência; para que este ato tão contrário à imunidade eclesiástica não cedesse em prejuízo dela, declarando que o tributo que um e outro estado paga promiscuamente, nos seculares é justiça, nos eclesiásticos é liberalidade; nos seculares é dívida, nos eclesiásticos é dádiva; Da; Reddite.