Por Brasil e Portugal

E verdadeiramente que quando a nenhum rei deveram os eclesiásticos esta correspondência, os reis de Portugal a mereciam; porque se atentamente se lerem as nossas crônicas apenas se achará templo, ou mosteiro em todo Portugal, que os reis portugueses com seu piedoso zelo ou não fundassem totalmente, ou não dotassem de grossas rendas, ou não enriquecessem com preciosíssimas dádivas. Impossível coisa fora deter-me em matéria tão larga e inútil, e tão sabida. Concorram pois as igrejas a socorrer a seus fundadores, a sustentar a quem as enriqueceu, e a oferecer parte de suas rendas às mãos de cuja realeza receberam todas. Mais é isto justiça, que liberalidade; mais é obrigação, que benevolência; mais é restituição, que dádiva.

Tirou el-rei Ezechias do templo para se socorrer em uma guerra, os tesouros sagrados, e as mesmas lâminas de ouro com que estavam chapeadas as portas; e justificam muito esta resolução assim o texto, como os doutores, por três razões: De necessidade em respeito do reino; de conveniência em respeito do templo; de obrigação em respeito do rei. Por razão de necessidade em respeito do reino (diz o Cardeal Caietano), porque quando o reino tinha chegado a termos que se não podia conservar, nem defender de outra maneira, justo era que em falta dos tesouros profanos substituíssem os sagrados, e que se empenhassem e vendessem as joias da Igreja para remir a liberdade pública. Omni exceptione maius est exemplum hoc Ezechiae, ut pro redemptione vexationis ab infidelibus liceat, exhautis publicis thesauris, ex Ecclesiae totalibus subvenire publicae libertati christianorum. Por razão de conveniência em respeito do templo (diz o Bispo São Theodoreto); porque mais convinha ao templo conservar-se pobre, que não se conservar; e é certo que na perda ou defensa da cidade consistia justamente