exemplos, e com a maravilha perpétua de seus prodigiosos milagres? Se a segunda propriedade do sal é, sobre preservativo, não ser desabrido, que santo mais afável, que santo mais benigno, que santo mais familiar, que santo, enfim que tenha uns braços tão amorosos, que por se ver neles Deus, desceu do céu à terra, não para lutar como Jacob, mas para se regalar docemente? Se a terceira propriedade do sal apostólico era não ser de uma sessão de toda a terra, quem no mundo mais sal da terra, que Santo Antonio? De Lisboa deixando a pátria, para Coimbra; de Portugal, com desejos de martírio, para Marrocos, da arribada de Marrocos para Espanha, Espanha para Itália, de Itália para França, de França para Veneza, de Veneza outra a França, outra a Itália, com repetidas jornadas; com os pés andou a Europa, e com os desejos a África, e se não levou os raios de sua doutrina a mais partes do mundo, foi porque ainda as não tinham descoberto os portugueses.
Se a quarta propriedade do sal foi ser sujeito das transformações dos elementos, em que santo se viram tantas metamorfoses como em Santo Antonio, transformando-se do que era, para ser o que mais convinha? De Fernando se mudou em Antonio, de secular em eclesiástico, de clérigo em religioso, e ainda de um hábito em outro hábito, para maior glória de Deus tudo, sendo o primeiro em quem foi creditada a mudança e a inconstância virtude. Finalmente, se a última propriedade do sal é conseguir o seu fim desfazendo-se, quem mais bizarra e animosamente, que Santo Antonio, se tiranizou a si mesmo, desfazendo-se com penitências, com jejuns, com asperezas, com estudos, com caminhos, com trabalhos padecidos constante e fervorosamente por Deus; até que em trinta e seis anos de idade (sendo robusto por natureza) deixou de ser temporalmente ao corpo, para ser por toda a eternidade à alma, onde vive, e viverá sem fim?