A segunda consideração que podia dificultar esta empresa, era o número superior da cavalaria, em que somos excedidos. Mas a isso acode também Judith na sua oração, dizendo: Neque in equtibus vountas tua est. A vossa vontade, Senhor, com que dais a vitória a quem sois servido, não está posta em cavalos nem em cavalheiros. Isto mesmo tinha dito David muito tempo antes, como experimentado; e o que é mais para a nossa confiança, o mesmo tinha prometido como profeta para os tempos vindouros; Non in fortitudine equi voluntatem habebit, neque in tibiis viri beneplacitum erit ei. (Psalmo CXLVI — 10) A maior fortaleza dos exércitos, diz David, consiste na cavalaria, e a maior fortaleza da cavalaria consiste em cavalos fortes, em homens fortes a cavalo: In fortitudine equi, in tibis viri; mas como Deus é o Senhor dos exércitos, e dá as vitórias a quem quer, e quer que só a ele se atribuam; pelo mesmo caso não põe ou porá jamais nem a sua vontade na fortaleza dos cavalos, nem o seu beneplácito na dos cavalheiros: Non in fortitudine equi voluntatem habebit, neque in tibiis viri beneplacitum erit ei.
E para que não vamos mais longe, na mesma cavalaria do exército de Holofernes, e no mesmo caso de Judith temos a prova. A cavalaria do exército de Holofernes, que sitiava os muros de Betúlia, constava de 22 mil cavalos: Equitum viginti duo millia, (Judith, VII — 2) diz o texto sagrado. E com que venceu Deus toda esta cavalaria? Com mais e melhores tropas? Com mais e melhores cabos? Com mais e melhores soldados, mais bem montados e armados? Não. Com uma só mulher a pé. E já pode ser que esse foi o mistério e a energia, com que notou o mesmo texto, que os pés de Judith foram os que renderam a Holofernes: Sandalia ejus rapuerunt oculos ejus. (Judith. XVI — 11) Querendo mostrar Deus,