Por Brasil e Portugal

nem fortalezas tão inexpugnáveis, nem inimigos, enfim tão obstinados, que se lhe não rendam. A praça mais forte e mais bem presidiada que nunca houve nem haverá foi o paraíso terreal, depois de lançado dele Adão, porque estava guarnecida de querubins, soldados imortais, todos com armas de fogo que foram as primeiras que houve no mundo; e haverá quem se atreva a investir, e possa entrar por força esta praça? Sim. E quem? Um homem, e com que exércitos? Só, e com que armas? Despido. Pois um homem, e só, e despido, há de entrar e render o paraíso defendido de querubins com armas de fogo? Sim, outra vez, se a cruz lhe der o valor, e desde a cruz fizer a investida. Divinamente São Crisóstomo falando do bom ladrão: Fecit latro de cruce impetum, et intravit paradisum romphae flammea circumdatum; Acometeu o ladrão desde a sua cruz, e fazendo dela escada assaltou as muralhas do paraíso, e por mais que estavam defendidas de querubins e espadas de fogo, os querubins, as espadas, e o fogo nada lhe pôde resistir, e foi o primeiro que vitorioso e triunfante restaurou a famosíssima e felicíssima praça que Adão com tanta fraqueza perdera. Não sei, nem posso dizer mais. E se uma cruz nas costas dá tanto valor e fortaleza, onde tantos trazem a cruz nos peitos, e todos a podem levar no coração, quem haverá na empresa presente que possa desesperar da vitória? Assim como antigamente mostrando Deus a Constantino o sinal da cruz no céu, lhe disse: In hoc signo vinces; o mesmo está dizendo ao invicto general das nossas armas.Nota do Autor Este sinal do céu seja o farol que siga as armadas no mar, e este o estandarte real, que leve diante dos olhos os exércitos na terra, para que vencedores em um e outro elemento, os vivos levantem os troféus neste mundo e os mortos (que não há vencer sem morrer) logrem os triunfos da sua constância no outro, exaltados todos pela virtude da Santa Cruz, como o mesmo Redentor foi exaltado nela; Sicut Moyses exaltavit serpentem in deserto; ita exaltari oportet Filium hominis.