Por Brasil e Portugal

samarra parda e remendada pelos tronos. De um momento para outro podia o herege entrar-lhe novamente a praça, outra vez se instalar na Sé, tornar a desfraldar sobre a montanha a bandeira de Orange... E porque já não havia falar aos homens, falou a Deus. Exurge, quare obdormis, Domine?

Neste espantoso discurso que é, talvez, o seu melhor sermão e, sem dúvida, a mais impressionante das orações pronunciadas em língua portuguesa, o orador se excedeu a si mesmo e deixou, por padrão da sua audácia e da sua angústia, um imperecível documento da eloquência sacra do tempo.

E Deus ouviu a Vieira. Não tornaram os flamengos a penetrar com o pé ímpio a religiosa Bahia...

Em que dia foi recitado o sermão da Ajuda? Foi depois do regresso do Conde da Torre — derrotado — e antes da entrada de Barbalho — vitorioso, a trazer à capital do Brasil o auxílio da sua legião, que rompera desde o Rio Grande. A esquadra flamenga apareceu diante de Itaparica a 25 de abril — cf. carta do conde da Torre para o reino, de 1º de junho, (Cit. de Varhagen, História das Lutas, etc.) No dia seguinte um barco parlamentário era recusado. Fala Vieira de uma quinzena de vigílias. Tendo sido iniciada a 25 ou 26 de abril, temos para a data do sermão 10 ou 11 de maio. Da expedição de Lichtardt avisava Nassau aos Estados Gerais em 8 de maio, P. M. Netscher, Les Hollandais an Brésil, Haya, 1853. E Documentos Holandeses, no Instituto Histórico, II, 82. Segundo frei Manoel Calado, a coluna de Luis Barbalho surgiu seis dias depois — portanto a 16 ou 17 de maio. O valeroso Lucideno pág. 75, Lisboa, 1668.

Antes de ser dada a definitiva estampa, foi publicado em Madrid, em 1661, muito alterado e imperfeito, como na introdução ao 1° volume dos "Sermões" (Lisboa, 1679) asseverou o autor.