dos galos, postava-se à janela, horas e horas, sem se importar com o sol que a queimava, a contemplar o jardineiro, com pena dele ser tão bonito mas entregue a um serviço tão bruto, o que não o embargava de viver sempre feliz, cantando uma cantiga cujos palavras ela não ouvia mas aprendera o tom.
Assim ela começou a querer bem ao jardineiro e a esquecer-se do príncipe feioso.
Um dia, — e o jardineiro não se levantara às horas do costume, — Chibamba cantou, — como que para ela ouvir, — do alto de um arvoredo, repetindo, em seus trinados, a cantiga que tanto a fizera amar o moço em vez do príncipe feioso. Quis logo ser dona do cantorzinho e botou toda a gente do palácio para pegá-lo.
Ele, dando umas gargalhadinhas, debicando dos que o perseguiam, desapareceu.
Quando ela voltou ao quarto, depois dessa carreira atrás do que não alcançou, viu o jardineiro bem de seu, como se nada houvesse acontecido, regando as plantas e cantando para diante. Invejou a felicidade daquele homem e lastimou a sua sorte de ser noiva de um príncipe malvado e estúpido.
Dias depois, abrindo a janela, viu Chibamba pousado no ombro esquerdo do moço, cantando, em música, a Cantiga do Jardineiro e este contente de o ouvir. Ficou tão encantada que nem se pôde mover do lugar nem balbuciar palavra, tanto mais por lhe parecer ter visto, debaixo das roupas do trabalhador, seu fato de Príncipe. O passarinho bateu as asas, deu uns estalidozinhos com o bico e foi cantar nas árvores do pomar, enquanto ela, fechando os olhos e suspirando, sentia que amava o jardineiro, — e a mais ninguém.
Na tarde desse mesmo dia chegaram os embaixadores do príncipe feioso em camelos arreiados de prata.