História das guerras e revoluções do Brasil, de 1825 a 1835

Só agora aparecia D. Pedro como ator principal; com a sua distinção incógnita desfizera-se de todas as considerações secundárias; percebeu que os caturras (seja-me perdoada esta expressão estudandesca), se precipitavam sobre ele; compreendeu que a luxúria egoística, qual voluptuosa Dalila, lhe roubava, com as madeixas cortadas, o último resto da força vital; ele ouviu o brado triunfal: "Sansão, os filisteus são sobre ti!" Ergueu-se, então, como um Sansão, pois as colunas do seu trono oscilavam; mas as madeixas não lhe queriam renascer, e não derruiu sobre si um edifício, "de modo a que o acompanhassem na morte muitos mais do que os que em vida fizera perecer."

Não, a rebelião o tornaria prudente e, por toda a parte, a brisa matutina, o crepúsculo e as sombras da meia-noite, sussurravam-lhe o velho e odiado aviso: "Sansão, os filisteus são sobre ti!" O imperador sempre foi suspicaz, e não sem razão; mas, agora, uma desconfiança servil abafava-lhe os últimos germes de nobreza de sua alma, para com a qual a natureza, certamente, não fora avara de dotes; viu malogrados os seus mais caros anhelos; talvez, como Nero, já cuidasse em se transfigurar em Trajano (pelo menos o jesuitismo justificava planos tão condenáveis); percebeu que se não queria mais aguardar a "época da declaração dos desígnios" e, como um jogador temerário apostou tudo, menos o seu dinheiro, numa carta e perdeu a parada.