INTRODUÇÃO
(MEMÓRIAS DE UM OFICIAL DE CAÇADORES)
1826-1833
Ninguém ignora que um dos principais motivos da impopularidade de D. Pedro I, nos últimos anos de seu governo no Brasil, foi a sua manifesta preferência pela guarda pretoriana de mercenários estrangeiros, com que pretendia firmar o prestígio de seu trono vacilante; poucos sabem, porém, que vários oficiais daquelas tropas adventícias, de regresso à pátria, escreveram e publicaram narrativas de suas tribulações na terra lendária do ouro e dos diamantes, cujo fulgor os atraíra com a mesma cupidez febril dos ousados companheiros de Cortez e de Pizarro.
Estes livros, hoje bastante raros e ainda mais raramente lidos, encerram, entretanto, contribuições aproveitáveis para o estudo do período inicial de nossa vida histórica como nação independente e autônoma. São quase todos libelos virulentos, alicantinas rancorosas, traduzindo em linguagem mal limada e, por vezes, assaz grosseira, despeitos odientos e desilusões amargas, descrevendo trágicas experiências ou ressumbrando recriminações sem número contra a gente e as coisas do Brasil.
Há em todos a mesma nota falsa de vingança impotente.
Os seus autores, verdadeiros náufragos da existência nas pingas natais, vieram quase todos seduzidos pelas