A Lagoa deveria, por força, servir de asilo a alguma graciosa divindade.
Acaba-se de atingir as últimas árvores da floresta. O horizonte clareia de repente, e penetra-se em um vale verdejante, rodeado a leste e ao sul por altos bosques que se alongam cobertos de reflexos azulados. Encontram-se aí, em abundância, minas de ouro e diamantes, frequentemente visitadas nos séculos XVII e XVIII pelos bandeirantes paulistas. À medida que se avança, as linhas esbatidas nos flancos das montanhas destacam-se do nevoeiro que deixara apenas entrever a sua sombra, e desdobram-se em generosas proporções. O panorama adquire, a cada instante, tons mais vigorosos e mais brilhantes. A paisagem mostra-se enfim em toda a sua majestade serena.
Grandes árvores cobertas de flores de um vermelho vivo, com penachos verdes, destacavam-se no azul claro do céu. A planície era cheia de luz e de harmonia. Pássaros de cores variadas: o caraúna negro, o galo da campina branco, com asas castanhas e cabeça vermelha, a patativa amarela, coroada de negro, o cotinga azul, o tangará tricolor, que saltam de galho em galho, descantando seus amores. Depois, no centro do vale, essa grande toalha d'água branca, fulgida, espelhante sob os raios do sol. Tudo isso, e a floresta, que apresenta para as bandas do oriente as suas profundezas misteriosas, e o rio Patipe, que se desenrola ao norte como uma faixa prateada, formam um quadro cheio de uma graça ingênua e de uma