Mas é possivel que Magalhães haja merecido tamanho relevo. O que aqui importa não é a nossa perspectiva do fenômeno Magalhães. Mas, sim, a do tempo de Wolf. E principalmente a do tempo anterior a Wolf. E este tempo consagrava Magalhães. Entusiasmos como os do historiador austríaco foram suscitados em grande número de escritores nossos. A admiração pelo gênio do homem de "Napoleão em Waterloo" não estava longe de ser unânime e não estava longe também dos possíveis excessos de nosso historiador de agora.
A posição de Magalhães como primeira — cronologicamente — figura de nosso Romantismo tem sido quase que universalmente aceita. Dizemos quase, em vista da divergência do Sr. Afrânio Peixoto, que faz o nosso romantismo iniciar-se com José Bonifácio, com suas poesias de Américo Elíseo, publicadas em 1825.
Esta é mais uma das tradicionais cincadas do Sr. Afrânio Peixoto. O renome e o prestígio de que o seu nome a certa hora desfrutou, como é provável que ainda desfrute, pode determinar o perigo de que muitos dos seus erros encontrem circulação fácil, e este pode ser o caso desta fantástica precedência do Patriarca em relação a Magalhães. Aventuramo-nos a analisar-lhe os pontos de vista.
As razões em que se assenta a tese do romancista de Bugrinha são as seguintes:
a) O seu livro foi impresso em Bordéus em 1825, - antecipando-se, pois, aos Suspiros Poéticos e Saudades de Magalhães, que são de 1836.
b) José Bonifácio, em seu livro, cita Ossian, Byron e Walter Scott.
c) Traduz Young.
d) Faz os seus poemas em versos brancos.