que alguns influxos, que devi às águas do Mondego, se prosperassem por muito tempo: e destinado a buscar a Pátria, que por espaço de cinco anos havia deixado, aqui entre a grosseria dos seus gênios, que menos pudera eu fazer, que entregar-me ao ócio, e sepultar-me na ignorância! Que menos do que abandonar as fingidas ninfas destes rios; e no centro deles adorar a preciosidade daqueles metais, que têm atraído a este clima os corações de toda a Europa!
Não são estas as venturosas praias da Arcádia; onde o som das águas inspirava a harmonia dos versos. Turva, e feia a corrente destes ribeiros, primeiro que inspire as ideias de um poeta deixa ponderar a ambiciosa fadiga de minerar a terra, que lhe tem pervertido as cores! A desconsolação de não poder substabelecer aqui as delícias do Tejo, do Lima e do Mondego, me fez entorpecer o engenho do meu berço..."
Esta fábula não passa, ao fundo, de uma alegoria. O poeta descreve as fontes de seu ribeirão (com as quais, às vezes, se identifica) sua infância feliz e os brincos de sua juventude, depois conta seus amores com a cruel Eulina (é o nome que o poeta dá a sua amante) que lhe é arrebatada por Apolo; descreve o desespero que o leva a blasfemar contra este Deus. Para vingar-se, Apolo excita os homens a rasgarem o seio do rio para retirarem dele ouro e pedras preciosas de que são tão ávidos. O poeta retrata-nos, enfim, as dores do Carmo, que vê as suas ondas avermelhadas pelo próprio sangue, passa com a rapidez de uma flecha diante de Mariana e acaba por se precipitar de uma altura incomensurável entre os rochedos que o esmagam.
Esta poesia inspirada por um patriotismo um pouco piegas, mas que contém algumas formosas descrições,