a que veio acrescentar-se uma febre nervosa. Curou-se desta doença, mas perdeu de tal modo qualquer lembrança do passado, e foi preso de tal obnubilação, que se esqueceu da própria Marília e acabou por desposar sua enfermeira. Nosso poeta estava, na verdade, são de corpo e entregava-se completamente aos cuidados de sua mulher, D. Juliana de Souza Mascarenhas, mas não fazia mais que vegetar e abandonava-se, de tempos em tempos, a acessos de melancolia e mesmo de cólera, quando chorava, gritava e se maltratava. Em uma palavra, enlouquecera. A morte só em 1809 punha fim a esta vida miserável. Marília quis, de início, consagrar-se à dor e à saudade do amado, mas foi mais tarde persuadida por seus pais a casar-se e morreu com a idade de 84 anos, em 1854!
Como Petrarca, Gonzaga deu a imortalidade à mulher que cantou. Como Laura, Marília brilha de luz viva na plêiade das mulheres ilustres da poesia. O poeta italiano foi, com efeito, seu modelo. Como ele, só escreveu para celebrar a bem-amada e destruiu, como diz em uma de suas belas poesias, todas as produções de que Marília não fosse o assunto. Marília de Dirceu é o título de sua coletânea poética, dividida em duas partes,(123) Nota do Autor como a de Petrarca. A primeira