Lembras-te acaso das passadas glórias?...
Tecera a graça em tua face um ninho;
Raios amor nos olhos teus vibrava,
E contendias formosura aos anjos.
Na voz as fadas te entornarão filtros,
Eras do mundo maravilha e assombro;
Em flor és menos, qu'em mulher; rainha
Se hoje és das flores, já das belas foste.
Muitos te amarão: — juras e protestos
Deixaste, surda, que a teus pés morressem;
Deusa impiedosa, só de ti ganharam
Desprezo frio, adorações ferventes.
Nem de um poeta o coração domou-te
O olhar de fogo, e derreteu-te o gelo;
Pobre insensata! nem sequer sabias,
O que é poeta, e que missão o alteia!
Do céu trombeta, que na terra sem
Raio do gênio, vítima da glória;
No céu tem palmas, tem na terra angústias,
No seio a glória, e na cabeça o gênio.
Flor que desponta, quando à natureza
Com santo amor o olhar de Deus fecunda,
Predestinado, que aleitarão fadas;
Mito de pranto e fogo: — eis o poeta.
Impenetrável rocha que desdenha
A linfa pura, que em seu dorso corre,
Assim tu foste, desprezando extremos,
Qu'ardente poeta esperdiçou contigo.
Pira sublime, rescendendo amores,
Alma de fogo derramada em hinos,
Só teve em paga enregelada frase,
Jamais! — a frase, que a esperança é morta.
Com efeito, a "Peregrina" ouviu este discurso e referiu-o a sua pessoa. No entanto, pergunta à Douda,