O Brasil literário: História da literatura brasileira

O canto quarto nos conduz aos túmulos. Em um recanto apartado, envolto de sombrias florestas e de negras montanhas, eleva-se uma montanha que domina todas as outras. No seu ápice, um solitário tinha outrora construído um eremitério. O monge morreu, sua casa estava em ruínas, o altar somente erigido no pórtico, ao meio das numerosas tumbas, se havia conservado. A lâmpada não se apagava nunca e foi a única luz que dissipou as trevas. Ignora-se quem alimenta a chama, no entanto, conta-se que um espectro de mulher, de roupas negras, de cabelos alvos como a neve, subia todas as noites à montanha para manter a lâmpada acesa.

Na noite que se seguiu ao diálogo da "Peregrina" com a "Douda" viu-se aparecer, ao raiar da lua, um homem caminhando entre túmulos, que se ajoelha e reza... É o "Trovador". Depois, se ergue e procura um túmulo, o de seu pai. Atira-se de joelhos, invoca seu espírito, queixa-se dos males que sofre e despede-se dos despojos terrestres do autor dos seus dias. Ao tombar da lua, o "Trovador" quis dar fim à existência que ele não pode tolerar por mais tempo. Pensa também em sua mãe e cheio da dor mais profunda, grita: "Ah, minha mãe!" e desaparece e erra como um possesso em meio aos túmulos. Mas, de repente, escutam-se vozes que partem da entrada do eremitério. Uma diz com tom imperativo, porém muito doce: "Quero entrar sozinha, rezar sozinha, espera-me à porta."

Por muito tempo, o "Trovador" caminha junto à montanha afundado na lembrança de sua mãe. Enfim, ergue os olhos, encara o altar, onde vê uma mulher aos pés da cruz e rezando com fervor. Depois se levanta, põe as mãos no peito e grita dolorosamente: "Ah, minha mãe!" O trovador precipita-se sobre ela para assisti-la; ele segura-lhe as mãos, leva-a quase com violência á luz da lâmpada, encara-a e solta um grito: é a "Peregrina".