O Brasil literário: História da literatura brasileira

Por um instante, mostrou-se aterrada; logo mais, no entanto, se refaz e encara a cruz que a deve proteger. O "Trovador" também, assaltado pelos sentimentos mais diversos, permanece a princípio silencioso. Finalmente, diz num tom de censura, afetuoso: "Encara apenas a Santa Cruz, mulher que me arrebatou os sentidos! Não vês que a barreira, que puseste entre nós dois não passa de uma inspiração do inferno? Não vês que a mão de Deus nos conduz para aqui? Não vês que estamos ao pé de um altar?"

A "Peregrina" diz então que veio para rezar ao túmulo de sua mãe no dia de sua morte. O "Trovador" suplica-lhe de novo que o escute, que consagre este altar ao amor, e ela responde o terrível "nunca". No entanto, a piedade que se apodera dela fá-la consentir em explicar ao Trovador que razões e juramentos a forçam a persistir na recusa. "Tu és o primeiro", diz ela, "que sabe o segredo de minha existência. Saberá porque eu desprezo o amor dos homens. Minha mãe foi vítima da sedução. Deste episódio nasci eu e uma irmã gêmea. O pai de minha mãe morreu de desespero e no seu leito de morte, amaldiçoou a filha: - Possa também ela morrer de dor, a dor que me arrebata a existência! Que a vergonha das filhas seja a morte da mãe! — Para esconder sua desonra e impedir o efeito da maldição, a infeliz retirou-se ao mais fundo da floresta. Crescemos afastadas de todos os homens, mas isto não impediu que se espalhasse a fama de nossa beleza. Um jovem de alta linhagem apareceu na região. Começou por dar festas esplêndidas, que evitamos. Depois partiu para voltar disfarçado em camponês. Chegou assim a insinuar-se no coração de minha irmã e esta foi vítima da sedução. Mas o pérfido abandonou-a para casar-se com uma mulher de sua classe. Minha mãe enlouqueceu, mas a morte logo veio para