Viagem ao Brasil, 1865-1866

aberta, que alegram neste momento as cores vivas das nossas redes. Nos fundos há um grande quarto dando para esta galeria por uma larga porta de palha, ou antes, de folhas de palmeira, não fixada em gonzos, mas flutuante e suspensa como uma esteira, em frente da qual se acha uma janela sem vidraça, que se fecha à vontade por meio duma outra esteira de folhas de palmeira. Esse quarto, por agora, está exclusivamente reservado para mim. Do lado oposto, há uma outra dependência em forma de varanda, aberta aos quatro ventos, a cozinha, suponho, pois aí está o grande forno feito de barro onde se torra a farinha, as cestas cheias de raízes de mandioca, prestes a serem descascadas e raladas e, ainda, a mesa tosca em que jantaremos. Tudo tem um ar de decência e de asseio. O chão de terra batida está varrido, o terreno que circunda a casa está limpo, sem cisco, a pequena plantação de cacau e mandioca, onde se veem também alguns cafeeiros, está cuidadosamente tratada. A habitação está situada sobre uma pequena elevação que se inclina suavemente na direção do lago; bem embaixo, abrigadas pelas grandes árvores, da margem, estão amarradas as "montarias" dos índios e as nossas canoas.

Fizeram-nos afável e doce acolhida. As mulheres se agrupam em volta de mim e passam em revista as minhas vestimentas, porém sem grosseria nem rudeza. A rede que prende os meus cabelos muito lhes preocupa; depois pegam em meus anéis, meu correntão de relógio, e, evidentemente, discutem entre si a "branca".



Cena pitoresca à noite

À noitinha, depois do jantar, passeio um pouco fora da casa e desfruto a singularidade da cena pitoresca seguinte. O marido acabava de chegar da pesca, e o fogo,