Viagem ao Brasil, 1865-1866

por esses insetos microscópicos. Os mosquitos são enervantes, os piuns fazem enlouquecer; mas, para acumular sobre uma pessoa todas as misérias, falem-me dos micuins.



Temporal

23 de outubro — Partimos de Tefé, sábado à tarde, pelo "Içamiaba". Parece que nos achamos em casa, tão viva é a lembrança das horas agradáveis passadas a bordo desse navio quando da nossa viagem a partir de Pará. Já se anuncia a estação das chuvas; nenhuma das tardes talvez da semana passada deixou de terminar em temporal. Na véspera de nossa partida de Tefé, assistimos a um dos mais magníficos temporais que vimos no Amazonas. Veio de leste, pois é sempre desse ponto do horizonte que vêm as grandes borrascas: o que faz os índios dizerem que "o caminho do sol é também o caminho da tempestade". As nuvens superiores iluminadas em cheio e fugindo com velocidade muito maior que a das massas inferiores sombrias e carregadas, deixavam cair, por cima destas, longas faixas em flocos, de um branco fosco; dir-se-ia uma avalanche de neve prestes a precipitar-se. Sentados na soleira da porta, contemplávamos a sua marcha rápida, e Agassiz me disse que essa tempestade equatorial era a imagem mais exata que já vira duma avalanche nas altas montanhas dos Alpes. A natureza, realmente, parece vezes querer brincar consigo mesmo, reproduzindo os mesmos aspectos nas circunstâncias as mais dispares...

Observamos com curiosidade as mudanças do rio. Quando chegamos a Tefé, ele baixava rapidamente, cerca de um pé por dia. Pode-se facilmente medir o recuo das águas pelos traços deixados nas margens pelas chuvas acidentais. Assim, a chuva que caía num dado dia fazia sulcos na areia até o limite das águas; no dia