Viagem ao Brasil, 1865-1866

dão acesso ao altar encimado por um nicho em que está colocada uma imagem grosseira de Maria e de Jesus. Naturalmente a arquitetura e a decoração são do estilo mais ingênuo; as pinturas consistem em faixas e linhas azuis, vermelhas e amarelas, com uns esboços de estrelas e losangos, ou então uma carreira de festões. Mas há alguma coisa de tocante em se pensar que esta pobre gente inculta das florestas empenhou-se em construir com as suas próprias mãos um templo, em que tentou exprimir todas as ideias de beleza e de bom gosto que possui, reservando para o altar humilde o melhor de sua arte. Nenhuma igreja das nossas cidades, cuja construção haja custado milhões, pode comover como essa pequenina capela, obra da fé sincera, saída das próprias mãos dos fiéis, com as suas paredes de barro cobertas de pinturas infantis, sua torre coberta de palha e uma cruz de madeira no átrio. É triste que esses índios, de sentimento religioso tão vivo, não contem com um serviço religioso regular. Somente com longos intervalos, um padre em visita de inspeção vem vê-los; mas, excetuadas essas raras ocasiões, não há quem lhes administre o casamento e o batismo ou dê instrução religiosa, a eles e a seus filhos. Não obstante, a igreja estava cuidadosamente tratada, o chão coberto de folhas frescas, e tudo denotando que o edifício era objeto de diligente solicitude. As habitações não são menos asseadas e todos os habitantes se mostram decentemente vestidos, nos trajes invariáveis dos índios civilizados: os homens de calças e camisa de algodãozinho, as mulheres de saia de chitão e camisa folgada, com seus cabelos negros presos e amarrados em cima da cabeça por meio de uma travessa semicircular colocada tão para a frente que chega até a testa, e em cujos lados prendem algumas flores. Nunca vi índia alguma que não estivesse assim penteada; esses produtos das