Viagem ao Brasil, 1865-1866

manufaturas estrangeiras chegam até os povoados mais retirados das florestas nas malas dos vendedores ambulantes chamados "regatões". Esses vendedores são muito conhecidos por todas as margens do Amazonas e seus tributários; são, segundo se diz, da mais completa má-fé no seu comércio com os índios, e estes não deixam de cair ingenuamente em todos os seus contos. Num relatório do Dr. Adolfo de Barros que, durante a sua curta porém hábil administração, impediu e, tanto quanto pôde, modificou os abusos que se cometiam na província, lê-se, depois de algumas palavras sobre a necessidade da instrução religiosa nesses povoados, as seguintes frases:

Atualmente, quem vai ao encontro do índio nas profundezas da floresta virgem, nos extremos desses rios sem fim? Ninguém, a não ser o regatão, menos bárbaro, sem dúvida que o índio, porém mais corrompido. Esse sabe bem onde encontrá-lo; encontra-o e, sob pretexto de negociar com ele, deprava-o e desonra-o!



Distribuição de presentes

Terminada a nossa visita à igreja, toda a população, homens, mulheres e crianças, nos acompanham até embaixo na praia, para receber os presentes que o Presidente distribuiu em pessoa. Foram esses, para as mulheres, adornos de vitrilhos pelos quais se mostram doidas de desejo, vestidos de algodãozinho, colares, tesouras, agulhas, espelhos; para os homens, facas, anzóis, machados e outros instrumentos de trabalho; finalmente grande variedade de pequenos objetos e brinquedos para as crianças. Se bem que essa boa gente se mostrasse cheia de cordialidade e boa-vontade, mantiveram os índios a impassibilidade que caracteriza a sua raça. Não vi uma mudança de expressão num só rosto, não ouvi uma palavra de gratidão ou de alegria. Uma única coisa foi capaz