Viagem ao Brasil, 1865-1866

nestas paragens; pode-se dizer que foi a única vez, durante os seis meses que passamos na Amazônia, em que se sentiu fresco sem o céu estar encoberto. O tempo fresco é aqui comumente o resultado de chuvas; desde que o sol se mostra, o calor fica intenso; ontem, porém, uma forte brisa soprou sobre o Rio Negro; as águas pretas desse rio tomaram uma coloração azul sob a ação do vento e a sua superfície se encrespou de ondas.



Curiosa formação do rio

É curioso que o Rio Negro, sendo um afluente do Amazonas, receba ramificações do grande rio. Um pouco acima de sua junção com o Solimões, este lhe envia as pequenas ramificações em frente às quais ontem passamos; o contraste das águas leitosas destas correntes com a coloração negro-âmbar do rio em que se lançam, tornam-nas facilmente reconhecíveis. Não é, todavia, o único exemplo desse modo singular de formação de um rio nesse gigantesco sistema de águas doces. Humboldt, com efeito, falando da dupla comunicação que existe entre o Cassiquiare e o Negro, do grande número de ramificações pelas quais os rios Branco e Japurá se comunicam com o Negro e o Amazonas, diz: "

Na confluência do Japurá observa-se um fenômeno ainda mais extraordinário. Antes que esse rio se junte ao Amazonas, este, que é o reservatório geral, envia três ramos, o Uaranapu, o Manhama e o Avateparaná, ao Japurá, que entretanto não passa de um seu tributário. O astrônomo português Ribeiro demonstrou esse importante fato. O Amazonas fornece, assim, águas ao Japurá antes de receber em seu seio esse afluente.

E é assim que ele faz para com o Rio Negro. A fisionomia desse rio é muito particular e difere muito das do Amazonas e do Solimões. As margens se recortam em numerosos promontórios que, de distância em distância, estreitam-lhe o curso, formando baías